julho 29, 2002

A ROLHA, ESSA DESPREZADA
Na hora da degustação, abre-se a garrafa e todas as atenções se concentram no vinho, ficando a rolha de lado, quase sempre jogada fora. É que, neste momento, ela acabou de desempenhar o papel que lhe foi destinado: proteger o vinho, impedindo que ele se oxide enquanto armazenado, assim preservando suas qualidades.
A matéria-prima mundialmente consagrada pára a fabricação da rolha é a cortiça, um tecido vegetal, compressivo e elástico, proveniente da casca do sobreiro (Quercus súber), uma árvore encontrada, principalmente, em Portugal e na Espanha. Sua industrialização se iniciou em Anguillane, na região da Catalunha, Espanha, por volta de 1750; passou, alguns anos mais tarde, para Portugal, iniciando-se em Santiago do Escoural, perto de Montemor-o-Novo. No entanto, somente no século XX, a partir dos anos 30, Portugal veio a tornar-se o maior produtor mundial de rolhas de cortiça e, junto com a Espanha, supre 2/3 do mercado mundial.
Uma curiosidade sobre a produção da cortiça: antes que a casca do sobreiro possa ser retirada, a árvore precisa crescer por 20 anos e essa retirada só pode ser feita uma vez a cada 10 anos, sempre no início do verão, operação chamada de tiradia.
Em seu processo de fabricação, a cortiça passa pela fase de cozimento, feita em caldeiras especiais, onde são retiradas impurezas e o material se torna mais maleável. A seguir, passa pela lavagem, onde se faz a remoção de poeira, a limpeza dos poros, a desinfecção com fungicidas, a coloração e, finalmente, o ajuste do grau de umidade. Importa ressaltar que a preocupação dos produtores com a qualidade é tão grande que a rolha é tratada como se fosse um produto alimentar.
As rolhas são escolhidas e separadas em classes, da 1ª à 5ª, em ordem decrescente de qualidade, para serem usadas de acordo com a importância dos vinhos; seu comprimento varia em função do tempo previsto para o armazenamento do vinho: quanto maior esse tempo, mais longas. Uma vez colocada, uma boa rolha dura, no mínimo, dois anos, podendo alcançar até 50 anos.
Não é pouco para quem nos garante o prazer de degustar um bom vinho!

julho 28, 2002

O VINHO E SUAS ORIGENS - LENDAS
"Uma lenda grega atribui a descoberta da videira a um pastor, Estáfilo, que, ao procurar uma cabra perdida, a foi encontrar comendo parras. Colhendo os frutos dessa planta, até então desconhecida, levou-os ao seu patrão, Oinos, que deles extraiu um sumo cujo sabor melhorou com o tempo. Por isso, em grego, a videira designa-se por staphyle, e o vinho, por oinos.
A mitologia romana atribui a Saturno a introdução das primeiras videiras; na Península Ibérica, ela era imputada a Hercules.
Na Pérsia, a origem do vinho era também lendária: conta-se que um dia, quando o rei Djemchid se encontava refastelado à sombra da sua tenda, observando o treino dos seus arqueiros, seu olhar atraído foi atraído por uma cena que se desenrolava próximo: uma grande ave contorcia-se, envolvida por uma enorme serpente, que lentamente a sufocava. O rei deu imediatamente ordem a um arqueiro para que atirasse. Um tiro certeiro fez penetrar a flecha na cabeça da serpente, sem que a ave fosse atingida. Esta, liberta, voou até aos pés do soberano, e aí deixou cair umas sementes, que este mandou semear. Delas nasceu uma viçosa planta, que deu frutos em abundância. O rei bebia freqüentemente o sumo desses frutos. Um dia, porém, achou-o amargo e mandou pô-lo de parte; alguns meses mais tarde, uma bela escrava, favorita do rei, encontrando-se possuída de fortes dores de cabeça, desejou morrer. Tendo descoberto o sumo posto de parte, e supondo-o venenoso, bebeu dele. Dormiu ( o que não conseguia havia muitas noites ) e acordou curada e feliz. A nova chegou aos ouvidos do rei, que promoveu o vinho à categoria de bebida do seu povo, batizando-o Darou-é-Shah ( « o remédio do rei » ). Quando Cambises, descendente de Djemchid, fundou Persépolis, os viticultores plantaram vinhas em redor da cidade, as quais deram origem ao célebre vinho de Shiraz. A vinha era objeto de enormes cuidados, e o mosto fermentava em grandes recipientes de 160 litros, os guarabares. Foi este vinho que ajudou a dar coragem aos soldados de Cambises na conquista do fabuloso Egito!"
(Reproduzido do site Vinhos - Gastronomia Portuguesa - Roteiro Gastronômico de Portugal).
ESCOLHENDO O COPO CERTO
Na hora da degustação, não basta preocupar-se com a escolha do vinho; importa, também, buscar o copo adequado. De fato, a escolha do copo é de fundamental importância para a boa apreciação de um vinho e deve levar em conta critérios como a funcionalidade e a estética; um copo mal utilizado pode tirar todo o prazer em degustar um bom vinho.
Mas, então, por onde começar? Bem, como regra geral, o copo deve ser de bom tamanho (prefira os maiores), liso, incolor, de espessura fina e com uma haste de boa altura (para evitar que o contato da mão aqueça o vinho). Para vinhos tintos, aconselha-se um copo com corpo mais bojudo e borda levemente fechada, o que facilita a apreciação dos aromas.
Alguns vinhos, como Bordeaux, Borgonha e Porto, requerem copos especialmente desenhados, mas isto é uma questão cultural, própria das regiões onde os vinhos são produzidos e a escolha do copo vai de acordo com os hábitos dos apreciadores desses tipos.
No entanto, se alguém quiser ser mais prático, sem se preocupar com esse ou aquele tipo de copo, saiba que existe uma saída: usar um fabricado segundo o padrão ISSO (International Standard Organization), muito usado pelos degustadores profissionais. Mesmo não sendo o mais apropriado para todos os tipos de vinho, tem aceitação mundial, pois suas dimensões e formato ajudam a definir qualidades e defeitos do vinho.
Existe no mercado uma variedade enorme de copos, tanto importados e de preços elevados quanto nacionais, mais baratos e também de boa qualidade.
E, por fim, definido o copo que iremos usar, não é demais uma recomendação quanto ao seu uso: nunca encher o copo acima da metade, de modo a que o vinho tenha espaço para “respirar”; se o vinho for encorpado, então, encher o copo só até a terça parte, porque esse tipo de vinho precisa de mais oxigenação.

julho 27, 2002

OS VINHOS DO NORDESTE
Quem pensa que vinho, no Brasil, vem todo do Rio Grande do Sul precisa começar a mudar de opinião. Sim, porque não se pode desconhecer a importância do Vale do São Francisco, em pleno sertão pernambucano. Lá existe um pólo vitivinícola que, hoje, responde por 95% da uva de mesa cultivada no país e pela produção anual de 5 milhões de litros de vinho. O governo do Estado, apostando nas condições favoráveis da região, assinou um protocolo de intenções com oito empresas, das quais quatro gaúchas (entre elas, a Miolo), quatro do próprio Estado e uma da Itália; além dessas, outras três empresas gaúchas estão em negociação (incluindo Casa Valduga), mais duas estrangeiras – Dom Teodósio (Portugal) e Ducos (França).
Com este projeto, a produção de vinhos do Vale deverá saltar para mais de 50 milhões de litros anuais, num prazo de até dois anos, fazendo da região o segundo maior pólo vitivinícola do país.
Quais os fatores para tanto interesse? Bem, o Vale possui um clima semi-árido, com solo fértil e água em abundância, mas as temperaturas são altas durante todo o ano e o regime de chuvas é irregular. No entanto, essas altas temperaturas, se por um lado contra-indicam a produção de vinhos clássicos, por outro dão à região uma característica única em todo o mundo: a possibilidade de se ter até duas safras e meia por ano. Com isto, a produção é direcionada para vinhos jovens, que não passam por períodos longos de envelhecimento.
Vinhos de Pernambuco são exportados para Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Dinamarca e Japão, mas o maior consumo fica mesmo com as regiões Sul e Sudeste do país. E já receberam prêmios em concursos internacionais.

julho 21, 2002

MIOLO TERRA NOVA
O inverno aí está, embora um pouco fraco cá pelas nossas bandas. Mas já convida a uma degustaçãozinha. E foi o que fizemos. Desta vez, um Miolo Terra Nova, tinto seco, Shiraz, safra 2001. Só que não originário dos vinhedos das Serras Gaúchas, mas do Vale do São Francisco: Produzido e engarrafado pela Vinícola Ouro Verde Ltda., em Santana do Sobrado - Casa Nova - Bahia.
De aspecto muito límpido, sem qualquer traço de turbidez, ao simples olhar evidenciava ser um vinho de corpo médio e, claro, bastante jovem. Seu aroma é intenso, mas não daqueles que nos deixam enebriados. Quanto ao gosto, comprova-se o corpo médio e a forte presença dos taninos é característica de sua pouca idade. Mas, diríamos que pode ser bebido com razoável aceitação face ao seu preço de mercado. Afinal, leva o nome da Miolo, uma das vinícolas mais respeitadas do sul do país.