O verão já chegou, trazendo temperaturas elevadas e o consequente desconforto
térmico. Para os apreciadores de vinhos, em particular dos tintos, vem uma
séria dúvida: Tintos no verão? Dá para beber? Se contraindicados, quais as
opções recomendadas? A esse respeito, vale transcrever um oportuno artigo, da
autoria de Euclides Penedo Borges (Diretor
e Conselheiro da ABS-RJ), publicado em janeiro de 2016 na Revista ADEGA (1):
“Ainda que as temperaturas ambientais elevadas possam influenciar o desejo de beber vinhos, os comentários de que os tintos não são adequados para o verão não procedem e os argumentos usados em tais comentários não têm sustentação. Tratando-se, entretanto, de uma bebida alcoólica à qual não se deve adicionar gelo, pois isso lhe altera a essência, a degustação de vinhos tintos nas épocas mais quentes do ano merece algumas considerações e certo enquadramento. Algumas orientações quanto à escolha e à degustação de um "tinto de verão" devem ser consideradas, sendo que um dos seus atributos pode ser destacado de imediato: deve ser apropriado para ser bebido frio, diferentemente dos tintos encorpados e taninosos.
Assim sendo, com
referência a tipo e estilo, a preferência deve ser para os chamados tintos
jovens, prontos para o consumo dentro de dois a quatro anos após a safra, não
mais que cinco, elaborados usualmente com uvas internacionais menos
estruturadas como a Cabernet Franc, a Gamay, a Pinot Noir, alguns Merlots fora
de Bordeaux, além de variedades regionais tintas mais leves: Bonarda, Barbera,
Trincadeira...
No que diz respeito
às sensações, eles devem agradar pelo brilho de sua cor rubi, por seus aromas florais,
frutados e de vegetais frescos, pela acidez, e consequente frescor, ainda
marcante, com um fim de boca francamente frutado. Corpo, teor alcoólico e
tanicidade devem ser apenas moderados.
Considere-se em
seguida a temperatura de serviço. Mesmo que você seja cético em relação à maneira de degustar dos enófilos, atente pelo menos para esta
temperatura. Servir um tinto muito quente é um meio garantido para se dar mal
com um bom exemplar, arruinado pela causticidade do álcool. Muito frios, os
tintos apresentam-se sem aromas e, anestesiadas as papilas, quase sem sabor. No
caso dos vinhos de verão, o serviço deve ser próximo de 14ºC e, se há
dificuldades de controle da temperatura, é melhor exagerar no resfriamento pois
o vinho aquece rápido e, se for necessário aquecê-lo mais um pouco, basta
envolver o corpo do copo com as mãos.
Quanto mais leve e
menos taninoso for o vinho - e diversos vinhos modernos são pouco taninosos -
mais fresco deve ser servido. Um Beaujolais comum, por exemplo, tinto de verão
por excelência, poderia ser servido entre 12 e 14ºC, pouco mais que um branco.
Finalmente, lembremos que os tintos de verão são indispensáveis quando se trata
de acompanhar adequadamente a comida, em especial embutidos, presuntos, carnes
frias como rosbife, massas e queijos simples e pouco gordurosos como pede a
estação mais quente do ano.
Alguns tintos
brasileiros menos amadeirados já consolidados no mercado, como os Valduga, Cave
de Amadeu, Terranova, etc. e outros mais recentes como os da vinícola Lídio Carrara,
podem atender aos requisitos acima de forma vantajosa. Procure a safra mais
recente, confira se o teor alcoólico é igual ou inferior a 13ºC e o beba
refrescado a cerca de 14ºC. É um tinto com gosto de verão!”
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