novembro 03, 2004

DESCOBRIR O ESPUMANTE
O enólogo chileno Mario Geisse, que em 1975 veio dirigir a filial brasileira da Moët & Chandon, hoje produz vinhos na Cave de Amadeu, em Bento Gonçalves (RS). Seu espumante brut, o Cave de Amadeu, é considerado o melhor do País. Geisse concedeu entrevista a uma revista brasileira, em outubro passado, quando falou sobre os espumantes brasileiros. São palavras de um enólogo já consagrado em seu país pela qualidade de seus vinhos.

“O Brasil deveria lutar para se firmar como o país do espumante. Porque essa é a vocação natural para o clima e o solo encontrados no País, aquilo que chamamos de terroir, sobretudo na serra gaúcha. No Brasil, as uvas pinot noir e chardonnay, utilizadas nos espumantes, amadurecem com alto grau de acidez, pouco açúcar e ótimos aromas, características ideais para a bebida. Na Argentina, por exemplo, essas uvas são colhidas antes da maturidade total, senão a fruta perde acidez e concentra açúcar. Mesmo o Chile, competitivo nos tintos, ainda não encontrou terras boas para espumante. No Brasil, podemos nos dar o luxo de colher no ponto certo e com as características preservadas.“
“São tão baratos que muitos brasileiros olham o produto com preconceito e pagam bem mais caro por champanhe francês de qualidade semelhante ou inferior. O Cave de Amadeu Brut, por exemplo, sai por R$ 40, no máximo. Exportado para a Europa, é o único vinho brasileiro vendido na loja El Mundo del Vino, em Santiago, no Chile, do master sommelier Héctor Vergara, considerada a segunda do mundo, atrás de uma parisiense. Para comprar um francês com a mesma qualidade, seria necessário pelo menos o triplo. Outras empresas brasileiras oferecem bons produtos entre R$ 25 e R$ 40. Excluindo o topo da faixa dos franceses, o Brasil é realmente competitivo no restante do mercado.”
“Espantosamente, o brasileiro bebe muito pouco espumante, apenas 25 mililitros por pessoa ao ano. Meu Deus, com todo esse potencial de produção... Os brasileiros precisam descobrir que espumante e champanhe são os mais versáteis dos vinhos. Acompanham bem muito mais coisas do que se imagina. São ótimos com peixes, comida japonesa, geléia, carnes brancas, embutidos leves, defumados e até com churrasco, porque lava a boca, produz contraste pela acidez e não pesa.”

Nenhum comentário: