novembro 01, 2004

ESPUMANTES, A VOCAÇÃO BRASILEIRA
Os termômetros acusam temperaturas cada dia mais elevadas, num claro sinal de que o verão se aproxima. Quem aprecia vinhos, também, pode fazer algumas mudanças e adaptar-se à estação, sem afastar-se da bebida. Para aqueles que estão indecisos sobre qual rumo tomar, recomendamos a leitura do texto abaixo, parte principal de artigo escrito pelo colunista e crítico de vinhos Marcelo Copello e publicado na Gazeta Mercantil de 18/12/03. Quase um ano depois, continua atualizado e fornece bons esclarecimentos, enfocando bem a realidade da indústria vitivinícola brasileira.

“Afinal, os produtores nacionais elaboram uma bebida perfeita para combinar com o clima e a paisagem brasileiros. Um líquido que, ao mesmo tempo em que refresca e desce fácil, tem caráter sem perder a alegria. Com belo visual, o espumante é o vinho mais versátil à mesa, acompanhando vários tipos de pratos, mesmo aqueles da substanciosa culinária brasileira, preparados com ingredientes de difícil harmonização.
Grande vedete da produção vinícola nacional, o espumante brasileiro atinge média de qualidade bem superior à de qualquer outro país da América Latina. Também é bom frisar a superioridade em relação à média dos Proseccos italianos que inundam o mercado. Esses espumantes do norte da Itália são uma moda que parece sucessora das garrafas azuis germânicas que aportaram no País na década de 1980.
Mas, o que torna o espumante produzido na Serra Gaúcha realmente tão bom, melhor do que tintos e brancos nacionais? Qual a explicação para o fenômeno?
Assim como em outras regiões do planeta, nas quais o clima dificulta o amadurecimento das uvas devido à carência de sol e luminosidade, essas áreas são propícias à produção de espumantes secos. O que é uma dificuldade para os brancos e tintos de mesa - uvas não totalmente maduras, acidez do solo, resultando em vinhos de pouco corpo, baixo teor alcoólico e acidez elevada - transforma-se em qualidade para os espumantes.
A falta de estrutura e de teor alcoólico dos vinhos feitos no sul do Brasil em regiões onde o clima dificulta o perfeito amadurecimento das uvas são plenamente compensados pela segunda fermentação à qual são submetidos. Geralmente, espumantes provenientes de regiões muito quentes são desinteressantes, pastosos e com falta de frescor. Os originários de regiões de clima mais ameno são beneficiados com uma maior acidez, sendo nervosos e vivos. É este o motivo pelo qual os espumantes nacionais são, em geral, superiores aos chilenos e argentinos. Estas condições ideais, aliadas à moderna tecnologia, são encontradas na Serra Gaúcha, de onde provém a quase totalidade do vinho fino brasileiro. É lá que está o circuito de cidades vitivinícolas Garibaldi, Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha e Caxias do Sul.
Hoje, quase todas as boas vinícolas brasileiras produzem pelo menos um espumante. Vários desses rótulos possuem qualidade, uma consistência provada através dos anos. Assim, pode-se afirmar com segurança: os espumantes representam a grande vocação brasileira em vinhos.”

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