junho 26, 2005

O BRASILEIRO E O VINHO
No artigo abaixo, o enólogo Adolfo Lona comenta a evolução do gosto dos brasileiros pelos vinhos, ao longo das últimas três décadas. Foram mudanças significativas de hábitos em muito pouco tempo, o que permite supor que, neste ritmo, passadas mais algumas décadas, os brasileiros estarão muito mais "afinados" com as boas coisas do mundo do vinho. Importante, portanto, que o setor produtivo se mantenha atento a essa evolução e, com políticas e práticas inteligentes e dinâmicas, assuma o posto de comando em toda essa transformação.

O melhor vinho

"Muitas pessoas me perguntam: Qual é o melhor vinho? e, ante esta indagação tão subjetiva, não cabe outra resposta que não seja: Aquele que lhe dá prazer, seja branco, tinto, seco, suave, nacional ou importado.
Por mais que os especialistas insistam que somente alguns vinhos são verdadeiramente bons, os simples mortais escolhem guiados pela subjetividade, pelo gosto pessoal. E não é justo condena-los por isso, porque todos nós conhecemos o velho ditado que diz: gosto não se discute...e acabou.
Mas não acabou, não.
Há um detalhe que todos aqueles que elaboram e comercializam vinhos e espumantes não podem esquecer: o consumidor de nossos produtos é progressivo, ou seja, aprimora seu gosto. Por isso, temos de trabalhar sempre procurando ganhos de qualidade.
Vejamos alguns exemplos que demonstram quanto o mercado avança. Na década de 70, quando o brasileiro descobriu o vinho fino, 60% do total comercializado eram vinhos rosados, ligeiramente adocicados e gaseificados. Eram o que nos chamamos de "o caminho intermediário entre um guaraná e um tinto seco". O modelo seguido era o Matheus Rosé português. Este vinho foi perdendo sua importância e hoje representa menos de 1% do vinho consumido no Brasil.
Entre as décadas de 80 e 90 surgiu um substituto para o rose: o branco tipo alemão, suave, adocicado, aromático, que iniciou com a criativa iniciativa de algumas vinícolas da Serra Gaúcha, que lançaram marcas como Liebfraulmilch, Katz Wein, Wein Zeller, Zahringer´s, entre outras.
Este tipo de vinho teve sua época de sucesso em meados dos anos 90 com a chegada dos vinhos alemães da garrafa azul. Hoje, este tipo de vinho representa na soma de nacionais e importados menos de 5% do total consumido.
Ao final dos anos 90 apareceu, finalmente, o vinho tinto, última etapa do longo caminho da educação do consumidor de vinhos. Primeiro, os tintos carregados de madeira, a chamada madeira fácil, que era resultante da passagem por serragem que transmite esse aroma amável, de baunilha e chocolate.
Atualmente, a moda da madeira fácil perde força e começa a surgir o vinho tinto jovem, frutado, sem maquiagem, agradável e fácil de beber.
Seja qual for seu estágio, caro leitor, beba vinho prazerosamente, sem culpa, sem medo, com o único compromisso de deleitar-se saboreando a mais sã e higiênica das bebidas. Deixe o tempo passar. Afinal, gosto não se discute...se aprimora.
Se alguém não gostar do que você gosta, que espere."

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