março 30, 2003

PEQUENOS PRODUTORES, GRANDES VINHOS
O mercado internacional de vinhos vem mostrando uma curiosa faceta: a de vinhos raros e caros, que se tornam famosos em pouco tempo, mas cuja produção apresenta características diferenciadas. Em primeiro lugar, porque são elaborados por jovens produtores, com poucos recursos e pequenas vinhas, que disponibilizam quantidades mínimas de garrafas, cerca de 3.000 por ano; em segundo lugar, porque eles não possuem a tradição dos grandes produtores.
Mas a realidade é que esses vinhos. chamados pelos franceses de "vins de garage" e pelos americanos de "cult wines', vêm recebendo elogios rasgados dos críticos internacionais e alcançam preços de até mil dólares a garrafa.
Tudo começou em 1994, quando o francês Jean Luc Thunevin, à época bancário e DJ, lançou o Château Valandraud, na região de Saint-Emilion, em Bordeaux (embora, vinte anos antes, o Château Le Pin, com a denominação de origem Pomerol, haja desenvolvido este conceito de um vinho altamente seletivo). Sua filosofia era a de tratar o vinhedo de forma orgânica, sem nenhuma química, colher sempre as uvas manualmente, selecionando os melhores cachos, produzir a metade da quantidade que a parreira é capaz, envelhecer o líquido em barricas de carvalho francesa, e ter extremo cuidado na hora da vinificação. Sua produção é de 500 caixas por ano e o preço, de 2.000 reais a garrafa.
E a tendência se espalhou por outras regiões da França, como Bourgogne e Languedoc, e extrapolou as fronteiras do país, chegando à Espanha, Austrália e Nova Zelândia. Nos EUA, onde não há mais de dez cessas vinícolas, vinhos como o Screaming Eagle, Maya, Araujo e Harlan seguem a mesma ideologia. Na França, porém, já existem mais de cem produtores dos "vins de garage".
Apesar disso, esses vinhos também recebem críticas, como de que não possuem a elegância e as características clássicas dos vinhos de Bordeaux, são muito alcoólicos.
(Baseado em matéria de Luciano Ribeiro, publicada na revista Domingo, do Jornal do Brasil, edição desta data).

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