fevereiro 17, 2004

TOURIGA NACIONAL
A touriga nacional é considerada, pela maioria dos críticos, a casta portuguesa de maior potencial e, por isso mesmo, chamada de casta rainha. Isso e uma reportagem recente na revista dos vinhos levou-me a promover um jantar com amigos, meus e do vinho, para tentar conhecer melhor a casta. Éramos 14 pessoas, mas somente 10 resolveram classificar os vinhos, 4 mulheres e 6 homens. A ideia foi a de tentar perceber as características habituais da casta, assim como o de tentar perceber o que o “terroir” lhe pode fazer. Convém realçar que somos completamente amadores, mas também convém não esquecer que os vinhos são em 95% das vezes bebidos por amadores.
A origem da casta continua a ser um mistério, sendo o Dão e o Douro apontados como os mais prováveis, sendo uma das castas responsáveis pela longevidade dos famosos Porto Vintages. Graças à fama de que goza, esta casta está neste momento disseminada por todo o país e começa a ser exportada para países do novo mundo como a Austrália ou o Brasil. Decidi pois, escolher 4 vinhos de regiões diferentes: Dão, Douro, Estremadura e Alentejo, mas o meu amigo Júlio, que nunca presta atenção ao que lhe digo, brindou-nos com mais um exemplar do Dão. Assim, do Dão vieram o Quinta da Pellada TN 2001, Quinta da Fonte do Ouro TN 1999, do Douro o Quinta das Castas TN 2000, da Estremadura o Caves Velhas TN 2001 e do Alentejo o Esporão TN 2001.
Os preços deixaram-me um pouco surpreendido, pois esperava encontrar bons exemplares na faixa 10€-15€, mas a fama da casta e também, certamente, a pouca produtividade das videiras, elevou o preço da maior parte dos vinhos identificados como bons. O único que apresentou um preço comedido foi o Caves Velhas, 7€, o Esporão estava no preço esperado, 14€, e os do Dão (não sei o preço do Fonte do Ouro) e Douro ultrapassaram a fasquia dos 20€.
A nota média dos homens e das mulheres foi sensivelmente a mesma, o que demonstra uma homogeneidade, em relação à escala (0-20), perfeita. A classificação média dos TN foi de 14,5 e a ordenação e classificação dos vinhos foi a seguinte:

Vinho, Região, Classificação

1º Esporão TN 2001, Alentejo, 16,44
2º Quinta das Castas TN 2000, Douro, 16,10
3º Caves Velhas TN 2001, Estremadura, 13,60
4º Quinta da Pellada Touriga Nacional 2001, Dão, 13,30
5º Quinta da Fonte do Ouro TN 1999, Dão, 13,29


A vitória do Esporão TN 2001 deve-se, sem margem para dúvidas, ao sector feminino, pois em média as senhoras valorizaram-no em mais 2,33 valores. Assim, se as vossas caras metade não apreciam vinho, aqui têm um bom exemplar par as demover. O vinho, de cor escura, é de facto feminino, com uma clara sobre maturação da uva, ao estilo novo mundo, levemente encorpado e taninos muito doces, alguns dos adjectivos utilizados foram: aroma a baunilha e a fruta preta, sabor a chocolate e a baunilha, suave, envolvente, final prolongado e complexidade média. A doçura “exagerada” do vinho foi penalizada pelo sector masculino. Resta dizer que foi um dos vencedores da prova da revista dos vinhos.

O vinho Quinta da Castas TN 2000 foi o mais intrigante vinho da noite, pois com tantas transformações quase parecia uma “Drag Queen”, de profunda cor vermelho escuro, foi o 2º vinho a ser provado logo após o Quinta da Pellada, e apesar de ser 1 ano mais velho, parecia bem mais novo. As minhas notas, num espaço de meia hora, foram evoluindo da seguinte forma: Frutado com ligeira acidez e taninos doces, baunilha no aroma e chocolate no sabor, mel, fumo, acidez final. A compota de fruto preto, robusto, complexo, diospiros verdes, foram outros dos adjectivos utilizados. A evolução do vinho chegou a deixar-me esfusiante, mas a quebra final do vinho penalizou as suas notas e terá sido o motivo pelo qual não ficou em 1º lugar.

O Caves Velhas TN 2001, de uma cor vermelho claro a denunciar a leveza de corpo, com pouca complexidade, mas muito equilibrado, tanto de aromas como de sabor.

O Quinta da Pellada TN 2001 foi, para mim, a grande decepção da noite, pois além de ser feito pelo senhor que mais tem inovado no Dão, é já um grande nome na região. Ligeiramente turvo, apesar de ter sido decantado, de cor pouco profunda, taninos bem presentes e acidez muito elevada e que, para piorar a situação, ia sendo acentuada com o tempo tornando-se desagradável.

O “Joker” da noite, o Quinta da Fonte do Ouro TN 1999, não foi além do último lugar, apesar de ter sido muito apreciado pela Isabel, que o colocou no topo das suas preferências a par do Quinta das Castas elogiando o seu aroma a madeira de castanho, mas, na sua maioria, foi apodado de áspero, ácido e agreste.

Extra concurso foram servidos um “Porto Tonic” da Vista Alegre, muito apreciado; um Gewürztraminer 2001 da Hugel (15,30 valores), de um amarelo claro límpido, com um perfume a damasco e frutos tropicais, sabor doce a damasco com uma acidez correcta a cortar o doce e a prolongar o final; um Riesling 2001 da Hugel (13,40), de cor clarinha, leves aromas a frutos verdes, com elevada acidez, pode combinar bem com marisco; para finalizar a refeição foi servido um Chateau Loupiac de 1996, um vinho obtido à custa de uvas com podridão nobre, atingidas pela botrytis, que não foi classificado mas foi muito admirado e elogiado, sendo uma verdadeira surpresa para muitos deles. Alguns dos adjectivos utilizados foram aromas a limão doce, laranja, mel, musgo, bosque, com uma acidez não muito elevada, mas suficientemente alta para cortar a doçura característica destes vinhos, acabo com as palavras da Ana Paula “Doce, encorpado, complexo, macio, aveludado, cheio de personalidade, com requinte. Adorei.”. Falta dizer que estes 3 brancos são franceses, os 2 primeiros da Alsácia e o último da região de Loupiac, mesmo ao lado da região dos famosos Sauternes, sul de França.

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